meu cachorro sultão
Este texto foi escrito com a intenção de ser uma escrita terapêutica, me ajuda a lidar com o luto de ter perdido o meu cãopanheiro.
Já não sei quantas vezes escrevi esboços deste texto, apaguei e reescrevi. Considero o que produzi aqui, como um texto inacabado que eu não soube começar, por ter sido muito precoce, e que eu não saberia terminar nem em todas as tentativas que assim tivesse. Fica este pedaço de papel apenas algumas palavras, que sua memória está preservada dentro desta família que vai sentir cada pedaço de falta sua.
Lembro até hoje de quando você chegou aqui, eu não estava em casa, mas recebi um telefonema que você tinha sido adotado, direto de uma feira de adoção aqui perto. Lembra o seu tamanho? Você era tão pequenininho, que logo uma das suas posições de conforto num ambiente que era totalmente novo, era no meu colo. Sultão cabia exatamente na metade da minha coxa e ficava ali repousado enquanto se ambientava com a sua nova casa.
Era tão quietinho, coisa que seria quase como uma descrição irreconhecível anos depois.
E você logo cresceu, cresceu a um tamanho que já não cabia mais no meu colo, mas repousava o seu focinho como você costumava deitar, quase como se desse ainda pra você deitar ali. De todas as maneiras, olhando as fotos aqui e com exceção dos seus pelos brancos que foram crescendo, você continuou com o mesmo rostinho de quando você tinha meses de vida.
Eu gosto de vislumbrar como nós seres humanos criamos o vínculo. Em toda a sua timidez inicial e nos seus primeiros dias ainda se acostumando com as presenças, você foi tomando e conquistando o seu espaço, que logo se tornou parte inseparável da família para todos os eventos. Se íamos viajar? Você iria. Se íamos sair? Você também iria. O lugar não aceita animais? Então nós não íamos.
A vida tem essas coisas, como que a gente cria tanto afeto e tanto laço por alguém que a única coisa que nos faz é ser companhia. Você foi o meu companheiro na fase mais difícil da minha vida, quando via a vida em tons de cinza, você foi um dos responsáveis por me dar cor a vida.
E pensando em viagens pelo Brasil, pegamos estrada e subimos todo o litoral do Brasil de carro, você sempre gostava de dar voltas, ir pra rua, não importando aonde fosse. Fico feliz que você possa ter conhecido que o Brasil é além do Rio de Janeiro, pode fazer suas peripécias no Brasil a fora.
Lembro até hoje quando numa dessas, eu tinha ido fazer uma trilha e assim que retorno para onde estava foi com a seguinte mensagem: "Sultão fugiu!". O desespero de ir atrás de você, colocamos muitas pessoas da pequena cidade ali pra te procurar e te encontramos, ao chamar o seu nome você veio correndo como se nada demais tivesse ocorrido, e já estava ali com novos amiguinhos e conhecendo os cães da região.
Você sobreviveu a muitas coisas, quase como uma bênção a maneira como você melhorou toda a nossa vida, toda a vida da família, como com seu jeito nunca gerou um tipo de aborrecimento assim como quando escutamos as histórias de outras famílias que também tem os seus. Você nos fazia sentir pessoas raras, puras e especiais, pela graça de poder ter tido você sem pedir absolutamente nada em troca.
Eu não sei ver como vai ser a vida agora sem você. Não consigo pensar em frequentar todos os cantos daqui e quando alguém perguntar: "E o Sultão?" eu não sei o que vou responder, pois nós tínhamos um trato, era pra você ir só depois que eu fosse, lembra?. Eu não sei como vai ser o Natal desse ano sem você aqui, como vai ser a virada de ano, sem você aqui.
Estou com medo como vai ser estudar e não ter mais você ali, ao lado da minha cama, perto da porta, onde você ficava me olhando, fazendo companhia num lugar que é só seu. Assim como, quando eu levantava pra beber água e você ia junto, pois sempre encontrava companhia com todos aqui
Não sei como vai ser chegar em casa e não ter mais a sua recepção, seus latidos e sua alegria que tornou nosso lar mais quente. Me tornei uma pessoa mais feliz com você aqui, sempre com seu jeitinho companheiro, de saber quando se fazer presente. As maravilhas que eram passear com você, você se tornou o cãozinho que todo mundo sabe quem você é, nunca deu dor de cabeça, não quebrou nada, não mordia chinelos, nunca foi agressivo. E agora eu queria que você tivesse dado muita dor de cabeça se isso significasse mais um ano com você aqui. você foi a minha maior loteria, o meu vira-lata favorito.
Descanse em paz, espero que a gente tenha sido tão boa companhia pra você quanto você foi pra gente, sentirei saudades como já sinto agora enquanto escrevo isto aqui.
Te amo, meu cãozinho de feira de adoção, minha loteria favorita, o melhor vira-lata do mundo. Sentiremos sua falta, Sulta.